«De Alcobaça à Independência do Brasil» – Recensão crítica
por Carlos Guardado da Silva
De Alcobaça à Independência do Brasil: O coronel Isidoro Rodrigues Pereira e as transformações sociais, económicas e políticas no Maranhão colonial entre 1775 e 1825, de Leonel Fadigas, é um estudo biográfico de Isidoro Rodrigues Pereira, um jovem, nascido em Maiorga, no concelho de Alcobaça, que parte à aventura em direção ao Brasil no final do século XVIII, num momento em que tinha crescido a migração para o nordeste, e em que se assistia ao avanço colonizador para o interior do continente sul-americano. Uma colonização em busca de novas terras para a plantação de arroz, algodão e cana-de-açúcar, e a criação de gado vacum, com a implantação de inúmeras fazendas, adquiridas através do regime de sesmaria, isto é, o modo de distribuição de terras incultas destinadas à produção agrícola.
(…) lê-se num trago apenas como se de um livro de aventuras se tratasse, e de um livro de aventuras que é, sendo simultaneamente um estudo de cariz histórico, com algum realismo, registo e representação cinematográficos, dada a qualidade e a fluência da sua escrita, mas também a história de Isidoro Rodrigues Pereira, digna de um filme no grande ecrã. 
Deste modo, esta é a história das aventuras da criança e do adolescente Isidoro, na vila de Maiorga, que com a juventude obteve o apelido Rodrigues Pereira, e da sua integração e vida adulta no Estado do Grão-Pará e Maranhão. Um estudo em que o autor, seguindo o provérbio árabe, que aqui lembramos, de que os homens são mais filhos do seu tempo do que dos seus próprios pais, nos integra nesse tempo, ou melhor, nesses tempos conjunturais distintos e nos respetivos lugares de Maiorga e Maranhão.
Por outras palavras, esta é uma obra que parte de um indivíduo – Isidoro Rodrigues Pereira, e que a partir da sua lente, o autor descreve, analisa e interpreta um tempo, em permanente devir, e duas comunidades locais – a alcobacense, e mais especificamente a comunidade da Maiorga, e a maranhense – dentro do contexto do império colonial português. Modelo que recupera o género biográfico que permite, a partir de um indivíduo, olhar para o seu tempo, uma vez que cada um é, e só o é, situado num espaço e num tempo. Assim é este estudo também um estudo de duas comunidades, as comunidades de vivência do biografado, nas suas dimensões geográfica, política, económica, social, religiosa e familiar. E não faltam aspetos urbanísticos, da Maiorga e do Maranhão, emergindo aqui a formação académica, por excelência, de Leonel Fadigas.
Para esta aventura oferecida ao leitor, o autor estrutura a obra, e, consequentemente, o caminho da leitura, em seis capítulos: A Infância na Maiorga; os primeiros tempos no Maranhão; as fazendas, os negócios e a carreira militar; a vida pessoal e familiar; as consequências da Revolução de 1820; e, por último, Isidoro Rodrigues Pereira e a adesão do Maranhão à independência do Brasil, terminando com uma extensa bibliografia e uma cronologia dos acontecimentos, que permite ao leitor acompanhar o curso do tempo.
Este é também um livro, que nos oferece o impacto político da Guerra Peninsular, com a saída estratégica da família Real para o Brasil, que criaria as condições para a independência deste novel país, o governo da regência de Beresford, e o processo em curso, que culminaria na Revolução Liberal de 1820 e na formação de Cortes Constituintes.
Pelo que dissemos, este é um livro que, numa Era da globalização, coloca a Maiorga no Mundo, ligando-a de forma indelével, ao império português e, mais especificamente ao Brasil e ao Maranhão, sendo tempo de endereçar os parabéns ao autor, pela narrativa com que nos brinda, assim como ao Editor, pela aposta no projeto, quando a Cultura e o mercado no livro não conhecem os melhores tempos.
Veja a recensão completa publicada no Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra aqui.